Monday, July 21, 2008

Moamba e diferenças de gostos



Este Sábado tive a honra de ser convidado pelo meu colega de casa para um almoço de família e amigos. Foi daqueles almoços como os angolanos bem os sabem fazer, repleto de pessoas amigáveis, um ambiente familiar e acolhedor. Ao fim de alguns minutos, e apesar de estar em Londres, quase me sentia em casa da Avó rodeado pela família...

E tal como na casa da Avó, em dias de reunião familiar, que prato foi feito? A bela da moamba com funge. Quando os pratos começaram a ser distribuidos e a comida servida ninguém ficou indiferente ao facto de eu estar sem prato e sem comer o prato típico da terra dos meus ascendentes. Perguntas como:
"Não comes?"
"Não tens fome?"
"Quê que se passa?"

e o choque após a minha resposta:
"NÃO GOSTAS DE MOAMBA?"
"NÃO GOSTAS DE FUNGE?"
"JÁ PROVASTE?"

Estas reacções também me são muito familares... mesmo após muitos anos, ainda (re)surgem na casa da minha avózinha. Calmamente respondo:
"Não, não gosto de ambos. Sim... já provei."

O que eu não compreendo é a dificuldade geral do ser humano em aceitar que pessoas não gostem de pratos que outros adoram. E diga-se de passagem que a moamba nem sequer é considerada um prato fácil pela cultura ocidental. O funge, feito a partir de farinha de mandioca, é algo semelhante a um puré, mas muito mais consistente. Aliás, consistente ao ponto de ser usado como cola por sapateiros em tempos de crise (ou pelo menos foi o que me contaram). Também há quem faça com pirão (farinha de milho), conhecido como polenta pelos italianos (a minha avózinha, como é muito democrática faz tanto funge como pirão para acompanhar a moamba). E por fim, a moamba propriamente dita consiste me galinha cozinhada com óleo de palma. Podem ver algumas fotos mais abaixo.

Porque não ficamos simplesmente satisfeitos pelo facto de sobrar mais comida (que consideramos uma iguaria) para nós? Grande questão... se fosse sociólogo provavelmente diria que existe uma tendência natural nos grupos de tentar "integrar" as pessoas (embora às vezes, esta integração mais pareça uma repressão). Mas não sou sociólogo... :-)

Aqui ficam as fotos da famosa moamba e do funge, considerados como iguarias por Angolanos e não só! Se alguma vez quiserem provar, pode-se tentar combinar uma sessão de degustação na casa da minha avózinha ;)





1 comment:

André said...

Já uma vez provei moamba (cozinhada por uma senhora portuguesa "ex-angolana") e também não achei muita piada. Em especial do funge...não tenho dúvidas de que a estória do sapateiro é verdadeira. :) Senti-me a comer cimento e que se o deixasse na minha boca mais alguns segundos, secava e ficaria ali durante uns anos.

Outro momento engraçado aconteceu nessa refeição de moamba. Eu senti um picante muito leve no frango da moamba. Tão leve para mim que tive de me concentrar nessa sensação e perguntar à minha mãe se também tinha sentido. Ela também o sentiu como eu... Para nós os dois, habituados ao "fogo" do caril indiano, aquela "chama de fósforo" fazia no máximo algumas cócegas na garganta. O engraçado foi que à nossa frente uma amiga ao provar a moamba ficou com lágrimas nos olhos e teve de despejar o copo de água para aliviar a boca do picante "fortíssimo" que estava a sentir. :)

Moral da moamba: para uns é bom, para outros não, para uns é levemente picante, para outros terrivelmente picante.