Friday, October 24, 2014

A fatia do Estado (aquele guloso...)

Há uns dias atrás estava a ter uma discussão interessante com uns amigos sobre os custos de fazer negócios em Portugal e levantou-se uma questão interessante: se um empresário vender um serviço a um cliente com quanto fica o Estado? Depressa percebemos que seria muito, mas é interessante fazer as contas e perceber que o Estado e a Segurança Social ficam com mais de metade do dinheiro transaccionado. Isso mesmo, por cada euro que se transacciona menos de metade fica para a empresa/trabalhadores.

Para ilustrar vamos pegar num caso muito simplificado. Imaginemos uma empresa de serviços que não tem lucro, em que os empregados recebem todos aproximadamente 1000€ líquidos (17.5% de IRS) e que o dinheiro ganho é todo revertido em salários. E agora imagina que compras um serviço a esta empresa por 10€ (8.13€ + IVA), as contas ficam assim:


Em 10€ gastos o Estado e a Seg. Social ficam com 5.27€! Estas contas simples ajudam a perceber porque interessa pouco a empresas estrangeiras investir em Portugal e porque as margens das empresas têm que ser grandes para tirarem algum dinheiro do seu investimento. Com estes valores é um verdadeiro desafio criar um negócio em Portugal.


Podem ver as contas em detalhe no gdocs ou em baixo:

Thursday, September 04, 2014

Praias semi-privadas

Em Portugal, por lei, as praias são públicas e toda a gente (rica ou pobre) tem o direito de aceder e usufruir das mesmas. No entanto há sítios no nosso país onde se parece ter contornado esta lei e criado o conceito que eu designo de praias "semi-privadas". Devido talvez a uma alergia dos ricos aos pobres, ou pura e simplesmente, um gosto de estar apenas rodeado pelos da sua classe vão-se criando "enclaves" que dificultam o acesso à praia pelos menos abastados.
Escrevo este artigo da Praia da Quinta do Lago e de seguida conto-vos como aqui vim parar. Estamos de férias em Faro e temos tentado ir a uma praia diferente todos os dias. Ora, como já tínhamos ido à Praia de Faro olhei para o mapa procurei um praia mais a leste. O que encontrei? A praia da Quinta do Lago. Agarrei no GPS e cá vim ter. Ao aproximar-nos da praia chegamos a uma rotunda com 3 saídas. Uma dizia hotel e tinha um sinal de trânsito proibido excepto para utentes do mesmo, outra dizia "aldeamentos" e a terceira dizia "praia". Ao sair na ultima saída somos imediatamente confrontados com um sinal de parque pago. Olhamos em redor e todos os passeios são altos de mais para estacionar... Recorremos ao típico xico-espertismo tuga, viramos para os aldeamentos (eufemismo para mansões de férias) onde por cada mansão havia lugares para uns quatro carros (suponho que sejam para o jardineiro, ama, mordomo e senhora da limpeza). Lá nos safámos mas claramente estes não eram lugares para quem queria ir à praia. E não há estacionamento gratuito previsto para os banhistas. Como é que a câmara municipal local compactua com isto?
O segundo caso é o de Tróia, praia da minha infância. Desde que o grupo SONAE ficou com a concessão da Torralta os preços dos bilhetes de barco mais que duplicaram. Um bilhete de ida-e-volta de Setúbal para Tróia (e somos obrigados pela Atlantic Ferries a comprar ida-e-volta) custa 6.50€! Um valor que permite uma ida ocasional à praia mas certamente não permite a uma família usar a praia diariamente. Para efeitos de comparação a travessia de ferry Olhão - Ilha da Culatra nos dois sentidos custa 3.70€. Não foi só a travessia para Tróia que se tornou proibitiva o grupo reduziu o estacionamento gratuito em Tróia a meia dúzia de lugares e agora espera que as pessoas lhes pague para lá deixar o carro.
Estes exemplos são infelizes e desconfio que não sejam os únicos... Melhor exemplo, não perfeito, é o da praia do Carvalhal cujo estacionamento junto à praia é pago mas que logo a seguir disponibiliza um estacionamento gratuito salvaguardando o direito de acesso à praia por todos.

Sunday, April 06, 2014

CGD viva, será que vale a pena?

Um representante da CGD vendeu-me o novo cartão multibanco viva como uma forma de poupar dinheiro nos transportes públicos, mas a realidade não é assim tão simples. Vamos analisar o caso de uma viagem de comboio suburbana CP para um utilizador frequente com um cartão viva Zapping.

Ao carregar o cartão viva zapping com 15€ recebe-se 1.15€ de bónus o que implica um desconto de 7% (1.15/16.15) sobre todas as viagens.

Custo da viagem com CGD viva: 1.80€.
Custo da viagem com cartão viva zapping: 1.67€ (1.80 - 0.07*1.80)

Conclusão, a forma mais barata de viajar de comboio em Lisboa é usando o cartão viva zapping (excluindo passes mensais). O que este representante me disse não é 100% exacto. Contudo, para quem usa os transportes urbanos de Lisboa ocasionalmente pode revelar-se uma opção prática por transportar menos um cartão e por não ter de adquirir (e carregar) o cartão viva zapping.