in: Diário de Notícias
CÉU NEVES
Emigrantes. São cada vez mais os portugueses que vêem em Angola uma saída para o desemprego ou quebra nos negócios. O problema são as dificuldades em ter um visto. As filas à porta do consultado são tão grandes, que já há um negócio montado para se vender os primeiros lugares e garantir a viagem
Setenta mil emigrantes nos últimos três anos
Uma senha C, o precioso papelinho que garante a entrega dos papéis para pedir um visto para Angola, pode custar 500 euros. Este negócio, resultado das longas filas que se formam no Consulado de Angola, em Alcântara, foi revelado ao DN pela pela própria cônsul Cecília Baptista.
A situação já levou as autoridades angolanas a alargar de dois para quatro os dias de atendimento por semana, tal a avalanche de cidadãos nacionais que pretendem emigrar para o país. Nos últimos três anos, foram quase 70 mil. Só no ano passado emigraram 28 930, em 2007, 22 321 e, em 2006, 16 396.
Terça e quinta-feira têm sido os dias destinados pelo Consulado Geral de Angola em Lisboa para receber os estrangeiros, o que provoca grandes enchentes junto às suas instalações. E há quem chegue durante a tarde do dia anterior para montar o acampamento. Mas nem todos pretendem um visto.
"Precisa de uma senha? Quer ir trabalhar para Angola? É melhor pedir um 'visto ordinário' porque nunca mais consegue um 'visto de trabalho'. É a senha C. Eu tinha senhas, mas desenrasquei um amigo", diz um dos muitos homens que mete conversa com a equipa do DN pensando tratar-se de potenciais emigrantes, ou seja, "clientes". E pergunta a outro: "Tens senha C?" Perante a resposta "tenho uma K", continua a perguntar a uns e a outros. E só mostra desconfiança quando questionamos: "É preciso pagar? Quanto é? "Isso é com a pessoa", responde. Conhecem-se uns aos outros, incluindo os funcionários do consulado.
É a própria cônsul a contar que as senhas são vendidas no "mercado negro" por 200 a 500 euros. Isto porque são distribuídas entre as 08.30 e 11.00, uma média de 180 a 200 por dia, acabando por esgotar antes da hora, queixam-se os emigrantes.
Cecília Baptista admite ser impossível apanhar os "candongueiros" (ver entrevista) e, para tentar controlar a situação, vai alargar o período de atendimento para a semana, embora o problema das enormes filas de espera junto ao consulado já se arraste há mais de um ano. "A título excepcional e temporariamente, passamos a atender pedidos de visto com senha C igualmente à segunda e quarta-feira, cem senhas por dia", lê-se num aviso.
15 horas de espera
"Eram seis horas quando cheguei", responde um dos primeiros da fila. Seis da tarde do dia anterior, esclareça-se! E as horas de chegada vão sendo cada vez mais tardias, à medida que se vai percorrendo a fila.
A maioria são homens, mas também há mulheres. Alguns querem um "visto ordinário", embora confessem que vão, o que significa que estarão ilegais nos primeiros tempos. Outros dizem que vão fazer turismo. Quase nenhum quer dar a cara. Mas todos tecem elogios ao novo eldorado dos portugueses, onde se pode ganhar três vezes mais do que em Portugal e sem a espada da crise por cima da cabeça. E, em dia da presença dos jornalistas, as senhas são distribuídas além das 11.00. "Não sei o que se passa hoje. Tenho a senha C 243. E isto está a andar muito depressa." É que, segundo os responsáveis consulares, os balcões de atendimento também aumentaram.
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