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Sunday, January 30, 2022

Indicadores económicos 1985-2020

Durante a campanha para as eleições legislativas de 2022 o líder do PS, António Costa, gabou-se de ser responsável pelo maior crescimento económico dos últimos anos como resposta a Portugal ter sido ultrapassado pelos países da Europa de Leste. Lamentavelmente a imprensa portuguesa não esclarece e muitos de nós temos de nos fiar nas palavras dos políticos para avaliar a performance económica de cada legislatura. Ora, os políticos escolhem sempre os números que lhes convêm, no horizonte temporal mais benéfico sem revelar, todos os números numa base fácil comparar.

Felizmente os números não precisam ser subjectivos, o Instituto Nacional de Estatística e o Banco de Portugal publicam todos os números que precisamos para avaliar o que passou em cada legislatura e pintar um cenário completo e objectivo.

Crescimento económico

A economia portuguesa depende em grande medida da economia europeia. Quando a economia europeia cresce, a economia portuguesa cresce e vice-versa. Daí um indicador interessante de analisar é a convergência entre a economia Portuguesa e a Europeia. A Figura 1 ilustra o ranking do PIB per capita português comparado aos países da UE27 contrapondo com a diferença entre o PIB per capita português à média da UE27 (a preto).

Fig. 1 - PIB per capita vs UE
 

Em 1989 Portugal atinge o 15º lugar no ranking de PIB per capita na UE, o seu lugar mais elevado. Mantém este lugar até 2006. Mas a divergência começa em 2001, desde daí até aos dias de hoje, com algumas excepções, o PIB português tem vindo a afastar-se da média europeia. Em 2019 Portugal baixa para a 18ª posição no ranking, o seu lugar mais baixo, fruto da pujança das economias da Europa de Leste.

As excepções à divergência ocorreram em 2009, à custa de um aumento da dívida substancial, e em 2015, após o programa da Troika.

Fonte: World Bank

Dívida pública

Fig. 2 - Dívida Pública em percentagem de PIB




Até 2002 Portugal manteve uma dívida pública na ordem dos 60%, condição acordada na Eurozona para ter o Euro como moeda nacional. Este limite é furado em 2003 e, em 2011, ano em que o líder do PS, José Sócrates, faz o pedido de ajuda externa ao FMI, Comissão Europeia e BCE (Troika), passa os 110%! Após o programa da Troika, em 2015, a dívida começa um caminho descendente. Em 2019 Portugal obtém o primeiro excedente orçamental atingido em democracia, de 0,1%. Este caminho descendente da dívida pública portuguesa é interrompido pelo Coronavirus que põe a nu lacunas no SNS, fruto de sub-investimento crónico.

Impostos

Fig. 3 - Impostos em percentagem do PIB

Em 2016, senão me falha a memória, Costa diz "Virámos a página da austeridade", será verdade? Desde 2014 até 2019 os impostos em percentagem do PIB aumentaram, aproximando-se do recorde de 2006 e superando os impostos durante o período da Troika. Mas a austeridade não se sentiu apenas nos impostos.

Investimento Público

Desde 2014, com excepção dos anos de endividamento louco de 2009-2011, o investimento público nas administrações públicas tem vindo a diminuir. Nem a "Geringonça" de António Costa reverteu esta tendência, foi preciso uma pandemia global para o investimento público chegar aos níveis de 2015.

Fonte:  Séries Longas da Economia Portuguesa - SLEP 2020

Facilidade para realizar negócios

Para melhorar uma economia é essencial melhorar o ambiente para realizar negócios, tal atrai investimento estrangeiro e a criação de novas empresas.

Fig. 5 - Ranking Ease of Doing Business

Em 2014 Portugal atinge o 23º lugar, o sua melhor posição, no ranking Ease of Doing Business, que mede o ambiente para se fazer negócios. Desde então Portugal tem vindo a descer neste ranking atingindo em 2019 a 39ª posição.

Fonte: tradingeconomics.com

Outro factor que não ajuda os negócios, nem a atracção de capital estrangeiro é a percepção de corrupção.

Fig. 6 - Indíce de percepção de Corrupção

Em 2015, e em 2018, Portugal atinge a sua melhor nota no indíce de percepção de corrupção: 64, infelizmente, em 2021, a sua nota é de apenas 62.

Fonte: Transparency International

Conclusão

No período da "Geringonça" de António Costa, a dívida pública reduziu-se enquanto os impostos aumentaram e o investimento público diminuiu. A economia portuguesa continua a divergir da UE27 e Portugal é agora um lugar pior para fazer negócios do que era antes de Costa ser Primeiro Ministro.

Notas

Os dados e os gráficos usados neste artigo podem ser encontrados em https://docs.google.com/spreadsheets/d/1YQZ_bDSEfWuxW--livaZIFxgidAexndJKJjUIcsI1rY/edit?usp=sharing

Também recomendo a leitura do artrigo do Banco de Portugal: Evolução de alguns indicadores a partir das novas Séries Longas para a Economia Portuguesa

PS: Não sou economista, apenas um curioso, não garanto a precisão e a pertinência do que está escrito neste artigo. Apenas garanto que foi escrito de boa fé, com a maior objectividade possível e com o melhor conhecimento que possuo sobre a matéria.

Sunday, January 17, 2021

Planear a reforma | Investimento passivo / longo prazo

Em 2060, o valor das pensões deverá ser, em média, apenas 30,6% do valor do último salário. São estes os mais recentes números divulgados pela Comissão Europeia. E só há uma forma para compensar a perda de rendimento na reforma: através da poupança.

Fonte: Sábado: 5 regras para uma reforma sem preocupações

até 2040, ou seja, dentro de menos de 20 anos, a capacidade que as pensões têm de substituir os rendimentos do trabalho em Portugal cai para 54,5% – e em 2045 será inferior a metade (48,2%).
 

1. Investimentos em geral

Regra geral, investimentos com retorno garantido assegurado são enganadores. Por exemplo, as contas a prazo e os seguros têm frequentemente retornos abaixo da inflação. Ou seja, ao fim de algum tempo o dinheiro aumenta em valor absoluto mas o poder de compra desse dinheiro é inferior àquele que se investiu. Para se obter retornos reais em que se bate a inflação, e o poder de compra aumenta, é preciso correr riscos, menores ou maiores. Nesse aspecto a juventude é uma vantagem, porque a longo prazo investimentos com mais risco (por exemplo acções) tendem a dar maiores retornos. Pessoas mais próximas da reforma devem ser mais conservadoras.

Também é importante referir que se deve ter sempre um fundo de emergência separado dos investimentos. Os imprevistos acontecem e nesses momentos não se deve liquidar os investimentos pois há o risco de perder dinheiro caso o mercado esteja em baixo. Mais em: Guia da Poupança: Aprenda a multiplicar o dinheiro.

2. PPR

Os PPR, Plano Poupança Reforma, têm vantagem em relação a outros investimentos pelos benefícios fiscais:
  • de entrada: 20% do valor investido (até €2000, ver tabela em baixo) devolvido em sede de IRS;
  • e de saída: os rendimentos são tributados a 8% em vez dos habituais 28%.
IdadeDedução IRSInvestimento
Até 35 anos20% até €400até €2000
Entre 35 e 50 anos20% até €350até €1750
Mais de 50 anos20% até €300até €1500

É possível investir mais em PPR mas, sem o benefício de entrada, deixa de ser proveitoso.

Em relação a qual PPR escolher, recomendo estes artigos:
Das opções elencadas destaco o Alves Ribeiro PPR do Banco Invest que tem sistematicamente batido a concorrência nos últimos anos.

Para os investidores mais novos, ou com maior apetite para risco, sugiro olharem para o PPR Optimize Agressivo e para o PPR SGF Stoik.

3. Investir como a Gulbenkian

O artigo Observador: Gulbenkian está a minguar. A bolsa pode quebrar a tendência? revela como a Gulbenkian gasta o seu dinheiro e, mais importantemente, como o ganha. Em tempos era através dos rendimentos do petróleo mas tem vindo a mudar para uma carteira de instrumentos financeiros diversificada:

Hoje, a fundação Gulbenkian tem oito mandatos de gestão. O maior, contratado com a norte-americana State Street Global Advisors, tem mais de mil milhões de euros e procura replicar índices, em particular o MSCI World, composto por mais de 1.600 ações de 23 países desenvolvidos.
...


...
É fácil investir segundo uma estratégia passiva. Existem milhares de fundos cotados que replicam índices. O Observador recomendou no passado o iShares Core MSCI World ETF (ISIN: IE00B4L5Y983), disponível nas bolsas de Amesterdão, Frankfurt, Londres e Zurique, que investe nas maiores empresas dos mercados desenvolvidos. Também já recomendou fundos de obrigações como o iShares Core Euro Corporate Bond (ISIN: IE00B3F81R35), listado nas mesmas bolsas.


Ora o retorno real das acções mundiais entre 1900 e 2019 (ajustado à inflação) foi em média 5%/ano enquanto que as obrigações renderam 2%/ano. O gráfico abaixo compara os retornos reais ajustados para a inflação de acções com obrigações ao longo de 117 anos:
Gráfico Ações vs Obrigações vs Bilhetes do Tesouro (1900-2016) 


Em baixo elenco um ETF, Exchange Traded Fund, e um Fundo de Investimento que replicam passivamente o MSCI World Index:

Para colmatar as acções com obrigações, para baixar o risco de investimento, o David Almas recomenda:
 
Para quem é novo (pode esperar que as crises passem antes de liquidar investimentos) e assumindo que se possui um PPR (os PPR já contêm obrigações) o iShares Core MSCI World ETF é uma excelente opção. Cumpre o principal mantra dos investimentos: diversificação, pois contém acções de 1600 empresas de todo o mundo.

4. Empresas: Fundos de Pensões

Para quem tem uma empresa, ou tem a opção de subscrever um fundo de pensões disponibilizado pelo empregador, os fundos de pensões são mais uma opção de reforma. Este instrumento tem algumas semelhanças com os PPR, mas também diferenças importantes. Uma vantagem, se for oferecido pela empresa, é que as contribuições para o fundo estão isentas de IRS (até se fazer o reembolso), de Seg. Social e de TSU, permitindo uma contribuição maior para o fundo do que é conseguida quando o colaborador aplica o seu próprio salário num fundo. Uma desvantagem é que as condições de reembolso antecipado são significativamente menos flexíveis que no PPR. Para mais detalhes sugiro: Negócios: Poupança: Cuidado, fundos de pensões não são PPR.

Mais sobre este tema:

5. Alocação de activos

A lógica convencional diz que, à medida que se envelhece, se deve mudar a alocação dos investimentos de acções para as obrigações. Por exemplo:
The old rule of thumb used to be that you should subtract your age from 100 - and that's the percentage of your portfolio that you should keep in stocks. For example, if you're 30, you should keep 70% of your portfolio in stocks. If you're 70, you should keep 30% of your portfolio in stocks.

However, with Americans living longer and longer, many financial planners are now recommending that the rule should be closer to 110 or 120 minus your age.
Fonte: CNN: What's the best asset allocation for my age?


Outra abordagem, é pegar na idade e subtrair 10 ou 20 e o resultado é a percentagem de obrigações que se deve deter a data altura, ou seja:
  • % obrigações = idade - 10, ou
  • % obrigações = idade - 20
Por exemplo, seguindo a segunda fórmula, alguém com 40 anos deve deter 20% de obrigações e 80% de acções.


Há até no mercado seguros e fundos "ciclo de vida", que fazem automaticamente a alocação de bens de acordo com a o horizonte temporal de investimento, com o objectivo de complementar a reforma dos subscritores. A curva de alocação desses produtos financeiros é semelhante à apresentada no gráfico em baixo:

Target Date Fund Asset Allocation Illustration
Fonte: The Hidden Dangers of Life-Cycle Investing


Contra a lógica convencional há quem proponha manter os activos sobretudo em acções no caminho para a reforma, nomeadamente Warren Buffet que sugere uma alocação 90/10 (Is Warren Buffett's 90/10 Asset Allocation Sound?).
Na secção abaixo é referido um estudo da Trinity University, que sugere não só manter uma carteira de acções ao longo da vida como também ao longo da reforma.

6. A Reforma

Chegada a idade de reforma, como fazer uso da poupança?

A "regra" mais popular é a regra dos 4%: no primeiro ano de reforma liquidar 4% da poupança e, nos anos seguintes, resgatar o mesmo valor ajustado à inflação.

Esta regra não é absoluta, depende de algumas variáveis, nomeadamente a idade de reforma, esperança média de vida e quanto se pretende deixar de herança, mas é uma boa indicação de como usar as poupanças acumuladas.

Para perceber mais sobre este tema, recomendo ler The Trinity University Study And The 4% Safe Withdrawal Rate (SWR). O estudo da Trinity University referido no link anterior calcula a taxa de sucesso para diferentes rácios de liquidação e diferentes alocação de bens aplicados a períodos temporais:


Curiosamente os resultados deste estudo sugerem que talvez valha a pena manter uma alocação maioritariamente em acções, 75% ou mais, durante a reforma.

Um efeito de aplicar a regra dos 4% é poder calcular o valor de poupança necessário para obter a reforma desejada. Tal faz-se multiplicando o valor anual de reforma pretendido por 25 vezes, ou 30 para os casos mais conservadores (de acordo com investigadores da Morningstar, 3.3% talvez será um valor melhor).

7. Resumindo

Resumindo a informação acima:
  1. Ter sempre um fundo de emergência para imprevistos;
  2. Investir num PPR até ao limite do benefício fiscal, exemplo: Alves Ribeiro PPR;
  3. Investir num ETF, ou fundo de investimento, que siga o MSCI World Index, exemplo: iShares Core MSCI World ETF;
  4. Se for empresário considerar um Fundo de Pensões, exemplo: Optimize;
  5. No início de carreira investir sobretudo em acções e, com o aproximar da reforma, considerar aumentar a quantidade de obrigações;
  6. Chegada a reforma, liquidar 4% da poupança no primeiro ano e, nos anos seguintes, resgatar o mesmo valor ajustado à inflação.
Em baixo deixo alguns anexos com informação útil adicional.

Aviso importante: desempenho passado não é garantia de resultados no futuro. Não trabalho em serviços financeiros e o conteúdo deste artigo reflecte apenas a minha opinião e investigação independente sobre o tema.

Anexo A - O exemplo simplificado da Maria

Um pequeno exercício ilustrativo muito muito simples, sem tomar em conta inflação, impostos, aumentos salariais, rendimentos abaixo da média, imponderáveis, etc sobre como podemos pôr este conhecimento em prática.

A Maria nasceu a 1990 e pretende reformar-se com 70 anos, em 2060. Tem neste momento 31 anos, recebe €1000/mês (vamos assumir que receberá o mesmo ao longo da vida) e está com receio da projecção da Comissão Europeia que estima a sua reforma em €306/mês.

Ela quer complementar a sua reforma com mais €250/mês (€3000/ano). Para tal, usando a regra dos 4% ela precisa de chegar à idade de reforma com €75 000 (25 * 3000), quanto deve poupar?

Assumindo que ela escolhe um cabaz de acções diversificado de acções mundiais, ela espera um rendimento de 5% ao ano. Usando este simples simulador de poupança ela conclui de que precisará investir €52/mês (€625/ano) para chegar ao seu objectivo.

Com um investimento total de €25 000 feito ao longo de 40 anos, a Maria poderá arrecadar perto de €50 000, triplicando o seu investimento, tal é o poder dos juros compostos, pois soma juros em cima de juros.

Anexo B - Perguntas e respostas


Porque não matérias-primas (ouro, petróleo)?

Ao contrário das ações, das obrigações e do imobiliário, as matérias-primas não pagam rendimentos periódicos (dividendos, juros, rendas), uma fonte fundamental para o desempenho de longo prazo. Apenas valorizam pelas expectativas de inflação e especulação (investimento vs. especulação). 

Bitcoin, e outras criptomoedas, foram desenhadas para se comportar como o ouro, pelo que poderão ser inseridas nesta categoria, com a ressalva de que são instrumentos novos, pouco legislados, cujo comportamento é difícil de prever.

Porque não acções específicas (Apple, etc.)?

Para uma estratégia passiva a palavra-chave é diversificação. A diversificação protege uma carteira de eventos que afectem negativamente um tipo de activos. Quanto menor for a correlação entre activos numa carteira mais bem protegido está contra crises financeiras. ETFs e Fundos Mútuos são soluções simples para construir uma carteira diversificada.

Não há problema em adicionar algumas acções, ou fundos de investimento sectoriais, à carteira desde que não se tornem uma parte avultada da mesma e comprometam a sua diversificação. Algumas fontes sugerem usar até um máximo de 10% para "apostas" ou "investimentos de risco".

Porque não Imobiliário ou Fundos de Imobiliário / REITs?

O Imobiliário é um óptimo investimento, usado pelos mais ricos, e a maioria dos investidores portugueses está já exposta ao mercado imobiliário através da habitação própria, um investimento frequentemente alavancado por crédito. Uma vez que a diversificação é um dos pilares do investimento passivo de longo prazo deve-se evitar estar demasiado investido num só tipo de activo.

O que é um ETF? 

Um ETF, Exchange Traded Fund, é um conjunto diversificado de ativos (como um fundo de investimento), que transaciona numa Bolsa (como uma acção). Os ETFs são uma forma fácil, de baixo custo e eficiente em termos fiscais de investir o seu dinheiro.

O que é uma obrigação / bond?

Uma obrigação é uma nota de crédito emitida pelo Estado ou empresa. Quem investe em obrigações, está a emprestar dinheiro a uma destas entidades.

Anexo C - Bancos e correctoras

Onde comprar activos financeiros mencionados neste artigo? A maior parte dos bancos tradicionais permite aos seus clientes comprar PPR, ETFs, acções e obrigações. No entanto as escolhas podem ser limitadas e as comissões podem ser elevadas, deve ser analisado caso a caso. Em baixo estão algumas opções de bancos/correctoras mais focadas em investimentos.

DeGiro

A DeGiro é uma correctora holandesa low cost e tem preços imbatíveis no que toca a compra de ETFs (bem como acções e obrigações). Por exemplo, permite comprar ETFs gratuitamente. Também tem a vantagem do registo ser online, fácil e rápido.

Banco BEST

O Banco BEST tem a melhor oferta de fundos de investimento em Portugal, e para a maior parte as comissões de subscrição e resgate são 0€. Também tem a vantagem de ser um banco sediado em Portugal com escritórios físicos. No entanto para adquirir ETFs paga-se uma comissão de pelo menos 10€ (da última vez que consultei o preçário).

Banco Invest

Banco Invest é tanto quanto sei o único banco que comercializa o PPR Alves Ribeiro.

GoBulling Pro

A plataforma GoBulling Pro do Banco Carregosa é uma das mais económicas para investir em fundos cotados em Amesterdão e em Paris. Numa operação de compra ou de venda, esse banco cobra 5 euros.
 

Anexo D - Como simular a pensão da Segurança Social

A Segurança Social disponibiliza um novo Simulador de Pensões que lhe dá informação sobre o valor estimado da sua pensão quando chegar à idade de reforma.Pode também ajudá-lo a decidir sobre o momento da reforma, tendo em conta as bonificações e penalizações aplicáveis.
 
 
 

Wednesday, September 21, 2016

Novo imposto sobre o património: algumas reflexões

Tem havido imenso alarido acerca do novo imposto sobre o património que a "Geringonça" pretende introduzir, com imensos artigos de opinião e comentários das fontes habituais que pouco se esforçam para clarificar o assunto. Aqui ficam umas reflexões sobre o assunto e sobre algumas ideias que têm sido propagadas pelas redes sociais e imprensa.

"A classe média e os pobres é que pagam mais impostos"

Uma ideia recorrente é a de que a classe média suporta a grande maioria dos impostos. Ao falar em classe média surge logo o primeiro problema: quem é a classe média? É uma questão que está longe de ser consensual, no artigo do Observador Ganho 2 mil euros, sou classe média? E eu que ganho 800? Nem os partidos sabem vários militantes de partidos adiantam diferentes tectos, para o BE o limiar encontra-se nos €2000/mês (€28 000/ano) enquanto que para o CDS é o último escalão de IRS (€80 000/ano). Grandes disparidades, portanto. 

Voltando à distribuição dos impostos, quem contribui mais para o IRS? O Orçamento do Cidadão de 2015 tem uma tabela que ilustra isto.

Receita do IRS por escalões de rendimento (Orçamento do Cidadão 2015)

Por exemplo, os agregados familiares que declaram mais de €80 000/ano, e que representam os 1.1% dos contribuintes que mais declaram, pagam 28.3% de todo o IRS colectado. Se considerarmos "ricos" os agregados que declaram mais de €30 000/ano então nesse caso os "ricos" são 9.1% dos contribuintes e estes pagam 69.9% de todo o IRS colectado. Ou seja, uma minoria dos contribuintes, os mais abastados, pagam a maior parte do IRS. Para vermos como isto é possível basta perceber que alguém que declare €80 000 desconta 37.65% do seu rendimento (juntando os descontos para a Seg. Social dá 49%), enquanto que uma pessoa que declare €10 000 desconta 18.7%.

Rendimento
colectável
IRS %
10,000.0018.7%
30,000.0028.0%
80,000.0037.6%
250,000.0046.4%

Tudo isto está certo, pois vivemos num estado social e por isso quem mais ganha mais contribui.

Os "super-ricos" fogem aos impostos

Um dos argumentos comuns a quem apoia o novo imposto é o de que os super-ricos fogem ao fisco (muitas vezes referindo a declarações de José Azevedo Pereira feitas à SIC Notícias) e que por isso se deve taxar (mais) o património para não escaparem. Este argumento tem uma falácia e é relativamente óbvia: se os super-ricos já fogem ao fisco porque não hão-de fugir a este imposto também? Será relativamente fácil para um super-rico dividir as suas propriedades por offshores, familiares, amigos e animais de estimação por forma a nenhum se qualificar a pagar este imposto. Ou então alugam as suas propriedades a familiares a um preço simbólico (imóveis arrendados estarão isentos do imposto). Tenho a certeza que os super-ricos já telefonaram aos seus contabilistas e lhes disseram para começarem a olhar para o assunto. Assim sobram os meros "ricos normais" que talvez (já) não sejam classe média mas que também não fogem ao fisco, abdicando de metade do seus rendimentos para o Estado, e que agora vêem as poupanças de uma vida ameaçadas.

As 1 000 famílias super-ricas a quem José Azevedo Pereira se refere são casos de evasão fiscal, são casos de fraude, são criminosos e devem ser combatidos pelos meios apropriados, através de melhores leis e de investigações da AT/Polícia que resultem em processos de tribunal. Desde que tenho memória que se fala nos super-ricos a escaparem aos impostos e desde que tenho memória pouco se fez em relação a isso e, mesmo agora, não oiço a "Geringonça" falar em tornar as leis menos permeáveis a fugas nem oiço falar em dotar a AT de mais recursos para fazer o seu trabalho.

Já existe um imposto sobre património de valor elevado

Talvez o aspecto mais irónico do anúncio deste "novo" imposto é que este imposto não é assim tão novo. Como é explicado pelo Público com este imposto o Governo pretende substituir o Imposto de Selo introduzido em 2012 pelo anterior governo, ou seja, na prática estamos a falar de alterar um imposto e não tanto de introduzir algo completamente novo. A diferença-chave é que o imposto de selo só se aplica a imóveis de valor patrimonial superior a 1 milhão de euros enquanto que o Governo pretende agora aplicar o imposto sempre que o património imobiliário global de um indivíduo ultrapasse os 500 mil euros. Hoje em dia alguém que tenha duas propriedades com valor patrimonial de 600 mil euros não paga imposto de selo e no futuro poderá ser diferente. No fundo, o objectivo é aumentar a base de incidência do actual imposto e, até, tornar o imposto mais justo. Se o Governo tivesse falado em "optimizar" o imposto existente em vez de "novo" imposto talvez todo este assunto tivesse gerado menos alarido. Aliás, todo o anúncio deste imposto foi bastante descuidado e até à data ainda não se sabe o seu valor (o actual imposto de selo é 1%).

Este imposto não tem impacto no PIB

Esta é uma meia verdade que tem sido repetida. De facto taxar o património não tem impacto directo no PIB, mas vamos olhar para os argumentos que o Governo usou no seu plano eleitoral. O seu plano era aumentar os rendimentos da função pública e dos mais desfavorecidos para estes consumirem mais e assim aumentar o PIB. Então, por esta ordem de ideias, se retirarmos mais de €5 000/ano (1% de €500 mil euros) aos indivíduos "ricos" estes terão menos dinheiro para consumir diminuindo assim o PIB.

A confusão entre stock e fluxo

O título desta secção vem de um artigo com o mesmo nome que tem uma passagem pertinente:

A riqueza é um stock. O rendimento é um fluxo. O stock consome-se. E no limite, sem fluxos, o stock esgota-se. É esta a diferença conceptual que alguém tem de explicar à estimada deputada [Mariana Mortágua]. Porque é sobre o stock que este imposto poderá incidir e, pior ainda, numa lógica progressiva cuja aplicação poderia fazer sentido teórico sobre fluxos mas não sobre stocks. O novo imposto apanhará na malha os proprietários que têm stocks e fluxos, e também os proprietários que tendo stocks não têm fluxos. Assim, pode muito bem suceder que um proprietário seja forçado a vender uma parte do seu stock para gerar um fluxo (progressivamente maior em função do valor do stock), conduzindo a situações de mal-estar individual e agregado que em nada traduzirão a suposta equidade que a medida alegadamente propõe alcançar.

Poder-se mesmo dizer que a Geringonça está mais focada em tornar os ricos pobres do que em tornar os pobres ricos.

Conclusão

O que me chateia neste imposto, além do anúncio descuidado e atabalhoado, é que vai incidir sobre aqueles já pagam a maior fatia dos impostos em Portugal: a classe média alta / novos ricos. Os "super-ricos" vão continuar a não pagar e está perder-se tempo, energia e dinheiro que poderiam ser dedicados a melhorar leis e reforçar a AT para ir atrás de quem prevarica e deixa sempre a fatura por pagar. Se o governo acredita que o património deve pagar mais, então aumentem o IMI e tornem-no progressivo. Não criem um "novo" imposto que será evitado pelos super-ricos e que obrigará os mesmos do costume a pagar 4x o que já pagam de IMI. Nos últimos anos tivemos os "cérebros" a sair de Portugal por causa da falta de oportunidades, no futuro pode ser que mais saiam, e que os anteriores não voltem, por causa da elevada taxação portuguesa.

Por último, Portugal está falido e tanto o Estado como as empresas estão altamente endividadas, precisamos de investimento estrangeiro para sair desta situação precária. E como disse a presidente do Conselho de Finanças Públicas: mudar impostos a cada 6 meses “tira confiança aos investidores”. Vamos antes focar-nos em estabilizar e afinar a máquina fiscal, melhorar a Justiça portuguesa que o PIB e as receitas fiscais aumentarão.

Friday, October 24, 2014

A fatia do Estado (aquele guloso...)

Há uns dias atrás estava a ter uma discussão interessante com uns amigos sobre os custos de fazer negócios em Portugal e levantou-se uma questão interessante: se um empresário vender um serviço a um cliente com quanto fica o Estado? Depressa percebemos que seria muito, mas é interessante fazer as contas e perceber que o Estado e a Segurança Social ficam com mais de metade do dinheiro transaccionado. Isso mesmo, por cada euro que se transacciona menos de metade fica para a empresa/trabalhadores.

Para ilustrar vamos pegar num caso muito simplificado. Imaginemos uma empresa de serviços que não tem lucro, em que os empregados recebem todos aproximadamente 1000€ líquidos (17.5% de IRS) e que o dinheiro ganho é todo revertido em salários. E agora imagina que compras um serviço a esta empresa por 10€ (8.13€ + IVA), as contas ficam assim:


Em 10€ gastos o Estado e a Seg. Social ficam com 5.27€! Estas contas simples ajudam a perceber porque interessa pouco a empresas estrangeiras investir em Portugal e porque as margens das empresas têm que ser grandes para tirarem algum dinheiro do seu investimento. Com estes valores é um verdadeiro desafio criar um negócio em Portugal.


Podem ver as contas em detalhe no gdocs ou em baixo:

Thursday, September 04, 2014

Praias semi-privadas

Em Portugal, por lei, as praias são públicas e toda a gente (rica ou pobre) tem o direito de aceder e usufruir das mesmas. No entanto há sítios no nosso país onde se parece ter contornado esta lei e criado o conceito que eu designo de praias "semi-privadas". Devido talvez a uma alergia dos ricos aos pobres, ou pura e simplesmente, um gosto de estar apenas rodeado pelos da sua classe vão-se criando "enclaves" que dificultam o acesso à praia pelos menos abastados.
Escrevo este artigo da Praia da Quinta do Lago e de seguida conto-vos como aqui vim parar. Estamos de férias em Faro e temos tentado ir a uma praia diferente todos os dias. Ora, como já tínhamos ido à Praia de Faro olhei para o mapa procurei um praia mais a leste. O que encontrei? A praia da Quinta do Lago. Agarrei no GPS e cá vim ter. Ao aproximar-nos da praia chegamos a uma rotunda com 3 saídas. Uma dizia hotel e tinha um sinal de trânsito proibido excepto para utentes do mesmo, outra dizia "aldeamentos" e a terceira dizia "praia". Ao sair na ultima saída somos imediatamente confrontados com um sinal de parque pago. Olhamos em redor e todos os passeios são altos de mais para estacionar... Recorremos ao típico xico-espertismo tuga, viramos para os aldeamentos (eufemismo para mansões de férias) onde por cada mansão havia lugares para uns quatro carros (suponho que sejam para o jardineiro, ama, mordomo e senhora da limpeza). Lá nos safámos mas claramente estes não eram lugares para quem queria ir à praia. E não há estacionamento gratuito previsto para os banhistas. Como é que a câmara municipal local compactua com isto?
O segundo caso é o de Tróia, praia da minha infância. Desde que o grupo SONAE ficou com a concessão da Torralta os preços dos bilhetes de barco mais que duplicaram. Um bilhete de ida-e-volta de Setúbal para Tróia (e somos obrigados pela Atlantic Ferries a comprar ida-e-volta) custa 6.50€! Um valor que permite uma ida ocasional à praia mas certamente não permite a uma família usar a praia diariamente. Para efeitos de comparação a travessia de ferry Olhão - Ilha da Culatra nos dois sentidos custa 3.70€. Não foi só a travessia para Tróia que se tornou proibitiva o grupo reduziu o estacionamento gratuito em Tróia a meia dúzia de lugares e agora espera que as pessoas lhes pague para lá deixar o carro.
Estes exemplos são infelizes e desconfio que não sejam os únicos... Melhor exemplo, não perfeito, é o da praia do Carvalhal cujo estacionamento junto à praia é pago mas que logo a seguir disponibiliza um estacionamento gratuito salvaguardando o direito de acesso à praia por todos.

Monday, September 09, 2013

O Meu Programa de Governo [José Gomes Ferreira]

Durante a minha estada em Portugal encontrei um livro no balcão dos CTT que não resisti comprar, trata-se de O Meu Programa de Governo de José Gomes Ferreira.

O facto do autor ser, talvez, o jornalista económico mais interessante de escutar na televisão portuguesa e o facto de apresentar no livro as suas próprias propostas de governação tornam logo o livro muito atractivo. Aliás, o livro vai bem mais longe do que isso, é um livro extenso que cobre imenso terreno em imensas categorias, dando a cada uma profundidade, em alguns casos um contexto histórico, e termina geralmente com a sua proposta para corrigir o que está errado. Em cada capítulo não faltam referências a outros artigos e documentos (na minha opinião até podiam haver mais), e fica patente um excelente trabalho de investigação que não se vê nos artigos de jornais diários. Todos os portugueses deveriam ler este livro para tomar conhecimento do quão profundos são os problemas portugueses, mas também como para todos eles há soluções. Em baixo ficam os meus destaques dos pontos que achei mais interessantes, por variadas razões, e a minha própria opinião sobres eles. Estas notas não são um resumo e resultam da minha própria interpretação do livro. Para melhor compreender estes pontos, recomendo a leitura do livro.


Acabar com as Dívidas do Estado "fora do balanço"


Neste capítulo, talvez o o mais crítico ao governo de José Sócrates, JGF explica como os governos portugueses usaram as PPP para contrair dívidas "fora do balanço", atirando-as para o futuro e escondidas da opinião pública e dos nossos parceiras da UE. Na pág. 88 inclui um gráfico semelhante ao de baixo (começando em 2011 em vez de 2012) e faz uma observação muito significativa: o grosso dos encargos das PPP tem impacto no Orçamento de Estado apenas a partir de 2014 porque haveria eleições legislativas em 2013 (devido aos ciclos eleitorais 2005-2009; 2009-2013). Ou seja, o endividamento público, juntamente com a sua camuflagem, seguiu a agenda política do governo socialista.
http://www.dgtf.pt/ResourcesUser/PPP/Documentos/Relatorios/2012/Relatorio_Anual_PPP_2012.pdf
Mais à frente refere outro dado importante, entre 2010 e 2012 a dívida pública aumentou 30%, mais que durante 2005-2010. Tal não se deveu às acções do novo governo mas sim porque Portugal foi obrigado pela Troika a incluir as dívidas das PPP na dívida pública e, também, porque o PIB desceu. Sócrates, culpa o novo governo por este aumento quando na realidade ele é o responsável por tal!


Expropriar Parcerias e Nacionalizar o Défice Tarifário


Na pág. 106 JGF sugere duas coisas pouco pacíficas:
  1. A nacionalização / expropriação dos contratos das PPP que envolvem as ex-SCUT e as sub-concessões mais onerosas dos Estado;
  2. A nacionalização / Expropriação do défice tarifário da electricidade que já vai em 3800 milhões de euros.
Em relação à primeira, após pagar e compensar as actuais concessionárias esta medida agravaria a dívida pública em 2% do PIB mas poupar-nos-ia 400 milhões de euros por ano - vale bem o esforço.

Eu nem sabia muito bem o que era o défice tarifário de electricidade até chegar a este capítulo. O défice tarifário existe porque as empresas que produzem e distribuem electricidade dizem que são obrigadas a vender energia a um preço mais baixo se reflectisse todos os custos que têm. Ora estas empresas registam todas grandes lucros, no caso da EDP foi acima de mil milhões de euros! Estas empresas, altamente protegidas por operarem em mercado protegido, que produzem bens não transaccionáveis, geram elevados lucros e nós ainda as temos de indemnizar!


Convidar Funcionários Públicos a Ficar em Casa


Neste capítulo JGF começa por reconhecer e elogiar o trabalho dos funcionários públicos. Quando chega à pág. 143 sugere como solução intermediária para o problema do número excessivo de funcionários na Administração Pública enviar para casa aqueles cujas funções sejam consideradas redundantes, mantendo o seu salário-base. Poderiam até acumular um emprego no sector privado e ao fim de dois ou três anos, se se verificasse situação de emprego estável no sector privado rescindiriam o contrato com o Estado. Esta sugestão, apesar de bem intencionada, parece-me ser difícil de aceitar por parte da opinião pública. Neste campo os quadros de mobilidade parecem-me um tanto melhores.


Sim, Ainda é Possível Cortar Despesas Sociais


Este foi um do meus capítulos favoritos onde o autor desmistifica a falência da Seg. Social analisando em detalhe os regimes que a compõem e a contribuição de cada um para o balanço da mesma. Em geral a comunicação social e os políticos pintam o Sistema de Segurança Social como falido, mas este capítulo revela que não é bem assim. Primeiro é importante compreender que a Segurança Social se divide em vários regimes e sub-sistemas como demonstrado na tabela em baixo, baseada num organograma apresentado na pág. 146.


O Regime Providencial Contributivo que recebe as receitas dos trabalhadores privados (e públicos que entraram depois de 2006) e dos patrões (através da TSU) não só é sustentável como dá lucro! O sub-sistema de capitalização é a reserva deste regime, tem sob gestão cerca de 10 mil milhões de euros que daria para pagar as pensões durante 9 meses caso não houvessem mais contribuições para o sistema. Além disso estas reservas são geridas pelo IGFCSS que faz aplicações nos mercados financeiros aumentando os lucros originais.
O Regime não contributivo, de protecção social e de cidadania não tem receitas próprias, é financiado pelo Orçamento de Estado e pelas receitas da SCML. Mas as contas deste regime são apresentadas nos Orçamentos do Estado juntamente com o Regime Providencial alimentando a percepção que todo o Sistema de Social do Sector Privado é altamente deficitário!

Depois há a questão do Regime de Protecção do Sector Público, altamente deficitário e que leva o FMI a considerar que a Segurança Social não é sustentável.


Reduzir o Défice da Caixa Geral de Aposentações


Recentemente foi noticiada a intenção do governo de fazer cortes nas pensões da CGA e razão para isso é simples, o CGA não é sustentável no seu actual formato. O peso da CGA no OE de 2013 representa 3 906 milhões de euros. Ou seja, os contribuintes que trabalham para o sector privado, os mesmos que já pagam 11% sobre o seu salário (acrescidos 23,73% sobre esse salário, pago pelo patrão) têm de pagar cada vez mais IRS para ajudar o estado a pagar pensões da maior parte dos funcionários públicos e políticos. A agravar este desequilíbrio está o facto que a pensão média da CGA é 1146€/mês enquanto a  pensão média do Regime Geral da Seg. Social é 394€/mês. Outro dado a reter é que as pensões da CGA representam 15% do total dos reformados portugueses mas recebem 35% do total das pensões pagas em Portugal! Um relatório do FMI demonstra ainda que as diferenças entre os valores dos salários médios declarados e as pensões pagas são maiores no sector privado. Dito por outras palavras, a CGA atribui um prémio de 15% aos seus pensionistas em relação aos pensionistas do regime geral de Seg. Social. Este prémio é ainda mais expressivo se considerarmos que os funcionários públicos trabalham menos horas e, em vários casos, como os militares, diplomatas, juízes e oficiais de justiça, a fórmula de cálculo da pensão considera cada ano como mais do que um ano efectivo para efeitos de atribuição de pensão. Nas palavras do autor, no que toca ao pagamento de pensões, "o Estado português tem filhos e enteados".

Saltando para pág. 162, o relatório do FMI sugere:
  1. O corte de 10% em todas as pensões (o que seria injusto para as pensões do sector privado). Uma variante deste critério é o corte de 15% das pensões da CGA acima do valor mínimo. Só isto representaria poupanças na ordem de 1,5 mil milhões de euros.
  2. Os pagamentos do 13º e 14º mês seriam convertidos para um bónus que só seriam atribuídos se o PIB crescesse o suficiente  (com excepções para as pensões mais baixas)
  3. Cortar os benefícios dos futuros pensionistas, aumentando a idade da reforma para 66 anos e cortando todas as as hipóteses de pré-reformas, excepto por incapacidade, ou só após 40 anos de descontos efectivos.
  4. Uma medida mais "radical" seria cortar os pagamentos das pensões já existentes. Por exemplo, aplicando o factor de sustentabilidade que está em vigor desde 2007 a todas as pensões considerando também o aumento da esperança de vida entre 2000 e 2007, o que permitiria poupar 800 milhões de euros.
  5. Por último, o FMI propõe a imposição de um tecto de pagamento real de pensões, por exemplo até 12 vezes o Indexante de Apoios Sociais, o que poderia gerar poupanças anuais de 200 milhões de euros.


Impedir o Plafonamento e a Privatização da Segurança Social


Aqui o autor relembra-nos que o Regime Previdencial, contributivo, "está bem e recomenda-se" e não devemos nunca ser levados pela tentação proposta por políticos da direita de fazer o chamado plafonamento, ou seja, impor um tecto de descontos nos salários mais elevados, impedindo os trabalhadores de descontar sobre todo o seu salário para o Regime Previdencial gerido pelo Estado e sendo convidados a entregar uma parte dos descontos para regimes privados de capitalização. Na pág. 166 JGF explica em maior detalhe as medidas que os ministros da Segurança Social, Paulo Pedroso (2000) e José Vieira da Silva (2006) tomaram para tornar este regime equilibrável e para o tornar pouco vulnerável a abusos. Por definição este regime nunca irá à falência, se tiver menos receitas pagará menos pensões no futuro.
Mais adiante o autor previne-nos contra a privatização da Segurança Social e prova a sua opinião com números. O sub-sistema de capitalização da Segurança Social tem obtido uma rendibilidade dos seus investimentos de 4% nos anos bons e 2% nos anos maus, ou seja, quase sempre 2% acima dos gestores privados dos PPR!
Voltando ao relatório do FMI, este sugere a imposição de um tecto ou limite máximo do recebimento de subsídios, por famílias,  ou por indivíduos. A ideia é acabar com os esquemas que certas pessoas e famílias usam para caçar subsídios de forma legal ou na fronteira da lei.


Definir o Estado que Podemos Pagar


Neste capítulo JGF enumera as coisas que quer do Estado, desde a Defesa, passando pela Ciência até à Cultura. No final (pág. 188) diz: "O saldo primário do Estado deve ser sempre positivo: deve gastar menos do que recebe. Para NUNCA MAIS fazer nova dívida. E entretanto, gastar o excedente a pagar o stock da dívida acumulada irresponsavelmente durante décadas". Ora, se isto faz sentido nas nossas economias pessoais como é possível não seguirmos esta filosofia nas economias do nosso país? Aqui estou de acordo com JGF, mas estou disposto a abrir uma excepção. Eu não me importo que o nosso país contraia nova dívida para projectos estratégicos desde que a viabilidade económica desses projectos seja provada por uma entidade imparcial e por uma maioria qualificada do Parlamento, por exemplo, 3/4. Em relação a isto sugiro também a leitura de Constitucionalizar a Proibição do Défice ou a Obrigação de Estudar os Investimentos Públicos? que sugere um modelo bastante razoável para prevenir investimentos ruinosos como algumas das auto-estradas paralelas que temos.


Reduzir o Planeamento Fiscal ou Fuga Legal Aos Impostos


Aqui o autor cita uns números interessantes de um estudo do economista Eugénio Rosa (ligado ao PCP e à CGTP). Em 2010 os lucros contabilísticos da empresas portuguesas atingiram 49 855 milhões de euros, mas o lucro sujeito a imposto foi de apenas 15 150 milhões de euros, 30,4% do total! Assim a taxa efectiva de IRC foi de apenas 8,6% quando a taxa nominal é de 25%. Por exemplo, a Galp Energia teve lucros de 250 milhões de euros em 2012 mas obteve uma isenção fiscal sobre 160 milhões de euros do seu lucro! No OE para 2013 refere que apenas 33% das empresas pagam IRC. Duas em cada três empresas não paga nada. Neste campo acordaram-se algumas coisas no Memorando de Entendimento com a Troika sobre as quais ainda não se viu nenhum progresso.


Acabar com as importação Porta a Porta


Com a introdução do Mercado Único as compras de mercadorias de países de dentro da União Europeia escapam facilmente ao Fisco, nomeadamente à entrada dos produtos no circuito do IVA. Fernando Carmo, o presidente da Câmara do dos Despachantes Oficiais, chegou a quantificar a fuga anual em milhares de milhões de euros de mercadorias que entravam no circuito económico sem pagar IVA. Qual a solução proposta? Acabar com as importações porta-a-porta e obrigar os operadores a passar todas as mercadorias vinda da UE pela Autoridade Tributária e Aduaneira. Os acordos estabelecidos com a União Europeia obrigam que não se cobrem direitos alfandegários pele circulação de bens mas não diz nada acerca de controlos para efeitos do Fisco.


Baixar taxas de IRS


JGF sugere que progressivamente, à medida que a economia melhore, as taxas de IRS desçam com escalões de 10% para o mais pobres e 30% para os mais ricos com intervalos de 5% entre escalões. Na minha opinião é um tanto optimista, mas não seria mal se um dia chegássemos a um ponto em que fosse possível tributar tão pouco.
Chegados à pág. 211 o autor faz a proposta que para mim é talvez a mais utópica, mas talvez mereça ser experimentada. Ele sugere que todas as pessoas, mesmo as que recebem o salário mínimo devem pagar alguma quantia de IRS e apresentar uma declaração de rendimentos, mesmo que seja um imposto fixo anual de 5€. O objectivo não é garantir a receita mas é uma "medida simbólica, de responsabilização, de consciencialização para a participação no esforço colectivo de todos os cidadãos portugueses.". Segundo ele seria uma boa forma de acabar com aquela conversa de café em que os intervenientes dizem: "Eu cá, para os gajos não dou nem um cêntimo. Fujo aos impostos em tudo o que puder.". De facto é importante ter mais pessoas a participar activamente na Democracia e se esta medida ajuda, vale a pena!


Baixar o IRC e Aplicar Colectas Mínimas aos Pequenos Negócios


Na pág. 218 o autor vai buscar uma ideia de 1998/1999, proposta por Sousa Franco, a implementação de uma Colecta Mínima para sectores tradicionais de actividade económica de reduzida ou pequena dimensão. A ideia é cobrar em base fixa, anual ou trimestral, um espécie de imposto para o agente económico estar na actividade, podendo a partir daí fazer o lucro que quisesse e agindo com liberdade, desde que não ultrapasse um devido limite. Há muitos países europeus com sistemas semelhantes que provaram que isto funciona. Tal sistema permitira numa casa de família com uma pequena produção se poderia vender a produção nos mercados municipais ou a restaurantes.


Pôr os bancos a emprestar às empresas


Em Portugal precisamos de um Banco de Fomento. A ideia é o banco emprestar, não dar a fundo perdido (ao contrário do que tem sido tradição dos fundos comunitários) para emprestar às empresas portuguesas a uma taxa de juro aceitável. Em especial empresas que exportem e que sejam viáveis. Esta ideia não é novidade, é assim que funciona o KFW, o banco alemão de fomento que foi constituído com dinheiros do Plano Marshall após a 2ª Guerra Mundial. Também o blog "O Economista Português" aponta em direcção semelhante neste artigo. Curiosamente, o governo já fala desta ideia há alguma tempo e nunca saiu do papel...


Reorientar a Estratégia dos Grupos Económicos


Neste capítulo está uma descrição do tecido empresarial que acho digna de transcrever. "O tecido empresarial português é caracterizado de seguinte forma:
  1. Uma dúzia de grandes corporações actuando em mercados livremente concorrenciais, que atribui dividendos regulares generosos aos seus accionistas [a EDP endividou-se em 2012 para poder pagar dividendos no valor de 700M de euros] e que castiga os seus clientes com preços mais altos do que deviam vigorar nestes mercados, apoiada por uma banca que ao ajudar sistematicamente estas empresas em detrimento de todas as outras, se refugia em clientes que considera seguros...
  2. Uma esmagadora maioria de empresas descapitalizadas, com accionistas sem força financeira, que sempre que podem também caem na tentação de retirar algum rendimento dessas empresas - como fazem as grandes - para se remunerar, e por vezes para pôr o dinheiro no exterior do país (...)


Deixar de Favorecer os "Campeões Nacionais"


Os "campeões nacionais" são um tema recorrente no livro e neste capítulo o autor aborda-o em maior detalhe. Desde os anos 90 que se tomou a opção política de apoiar a formação de pouco mais de meia dúzia de grande empresas, grupos económicos protegidos pelo estado que cresceram à sombra de decisões políticas pouco sólidas. Estes campeões nacionais contrariam a tendência de baixa de preço e serviços que decorreria da sã e livre concorrência no mercado interno e cobram-nos sempre os preços mais elevados, preços exagerados para o nível que o país pode pagar.
Neste capítulo ele enumera-os:
  • Mota-Engil que beneficia de uma economia de rendas certas e garantidas pelas concessões de transportes. 
  • Brisa, que durante décadas, por cada euro pago em portagem de auto-estrada, metade era de resultado operacional positivo. Supostamente opera em concorrência, mas detém a Auto-Estradas do Atlântico (A8).
  • Grupo Mello que recentemente adquiriu a maior parte do capital da Brisa que ainda não detinha e que após todos os lucros que o Estado lhe deu quer ser indemnizado por prejuízos alegadamente decorrentes da introdução de portagens nas SCUT! E não estamos a falar de trocos, mas sim de mil milhões de euros.
  • Galp Energia que é o único refinador nacional o que lhe permite cobrar média 3 a 4 cêntimos a mais do que a média europeia por litro de gasolina s/ chumbo 95 e gasóleo.
  • Grupo Águas de Portugal que está fortemente endividado e do qual 7 sub-sistemas que o formam estão tecnicamente falidos.
  • REFER, que acumula uma dívida de 6 mil milhões de euros e que já deu a ganhar imenso dinheiro em estudos e projectos.
  • A TAP, cujo balanço não parece muito mal porque atirou imensas contas para fora do balanço, nomeadamente o leasing operacional de 19 aviões. Se incluísse este leasing no seu balanço o seu passivo financeiro de médio e longo prazo seria de 1,5 mil milhões de euros. Isto explica porque o único candidato à privatização da TAP apenas ofereceu 35 milhões de euros.
Todos estes "campeões nacionais" estão fortemente endividados apesar de beneficiar de condições de monopólio / oligopólio nos mercados que participam, apesar de nos cobrarem altíssimos preços (acima da média europeia) pelos seus serviços. Esta capítulo vai bem mais fundo do que eu fui aqui, explicando em detalhe as coisas que eu resumi, cobrindo mais empresas e incluindo as excepções.


Garantir a Concorrência Efectiva Entre Agentes Económicos


Este capítulo é muito relevante pois compara o Liberalismo na sua essência com o tipo de liberalismo que temos tido em Portugal. Ora, num modelo de Liberalismo há uma crença no Mercado e a desconfiança em relação ao Estado, deseja-se a redução do Estado e que deixe os privados trabalhar e ganhar dinheiro. Esta é a filosofia da maior parte dos gestores das empresas nacionais e é o que apregoam publicamente, mas na prática estes gestores fazem o contrário. Penduram-se a todo o momento no Estado, fazem depender a sua facturação dos gastos públicos ou da protecção de mercados aparentemente liberalizados enquanto o cidadão português paga a conta.
Chegados à pág. 315 ele toca num assunto que eu gosto particularmente que se refere aos custos e dependência elevada que a Administração Pública coloca em software proprietário (exemplo meu: Sistemas Operativos Microsoft). O autor refere o excelente exemplo do Brasil que já alguns anos que exige que todos os sistemas instalados sejam abertos. Não só isso contribuiu para a poupança de valores substanciais nas despesas do estado brasileiro como causou o desenvolvimento interno de alguns desses sistemas abertos. Ora porquê que a Administração Pública não usa a Caixa Mágica (linux) em vez de Windows? Já se estão a dar alguns passos em termos de homogeneizar os formatos digitais usados, mas penso que ainda se pode fazer muito mais!


Acabar com a "Central de Negócios" no Parlamento


Aqui JGF propõe umas medidas interessantes para acabar com a permeabilidade do governo e deputados aos lobbies. Sugere um rigoroso estatuto de incompatibilidades para todos os membros do Governo e todos os deputados. Estes "deverão cortar definitivamente todas as ligações com os escritórios de advogados onde tenham trabalhado e devem ficar proibidos de voltar a exercer funções nesses ou noutros escritórios de advogados, por um período razoável de tempo após o exercício de funções públicas". Parece-me razoável.
Ele ainda vai mais longe, para reduzir a tentação do Governo ou deputados de irem buscar receitas por fora, sugere que sejam aumentados para o dobro. Para financiar esta nova despesa poder-se-ia reduzir o número de assessores e deputados para metade. Ou seja, um Governo e Parlamento mais pequenos, melhor remunerados, mais valorizados e mais responsabilizáveis. Tanto membros do governo, tal como deputados, devem estar sujeitos a ser investigados à mínima suspeita de comportamentos menos lícitos. Independentemente do valor salários, não penso fazer sentido um Parlamento tão grande num país tão pequeno como o nosso.


Baixar os Preços da Electricidade


Este capítulo começa por dar uma perspectiva histórica do mercado da electricidade em Portugal. Quando chega ao presente, compara as estratégias adoptadas pelos países Ibéricos com as estratégias adoptadas pelos países escandinavos para incorporar a produção de energias renováveis nos seus sistemas electroprodutores. Os país escandinavos procuraram incentivar pequenos produtores, em comunidades locais a produzir para si, enquanto os países ibéricos (entre 2005 e 2011) partiram para grandes investimentos, favorecendo os grandes como a EDP, a Iberdrola e a Endesa, que produziam para a rede. Estas grandes empresas que já produziam electricidade em regime ordinário passaram a produzir em regime especial (PRE) com venda garantida a preços elevados. Quão elevados? Elevados o suficiente para EDP Renováveis ter uma rendibilidade de 46% sobre os capitais próprios! Por comparação, a EDPR nos EUA tem uma rendibilidade de 0.6% e em Espanha 2.9%. Como se isto não fosse suficiente, nós somos também obrigados pagar os custos de garantia de potência, manutenção de equilíbrio contratual e aquisição obrigatória de energia aos produtores de electricidade do chamado regime ordinário. "Isto é, as mesmas EDP, Iberdrola, Endesa e outras operadoras, que estão a ser altamente subsidiadas no regime especial, enquanto os moinhos gigantes das eólicas ou os painéis de células fotovoltaicas estão a produzir e a injectar electricidade na rede, exigiram ser pagas pela inactividade das suas centrais de carvão ou gás natural.". Belo arranjinho. Este mercado, supostamente concorrencial, está tão enviesado que os produtores e comercializadores de electricidade até tem direito, por lei, a aumentar os preços caso o consumo baixe. Daí surge o défice tarifário.
Para terminar, a REN tem, por lei, uma rendibilidade garantida de 8.5% em todos os investimentos que faça, sejam benéficos para o país ou não! Ora, a ideia geral de privatizar uma empresa ou contratar privados, é garantir um serviço a um preço fixo e deixar os riscos do negócio para eles. O nosso governo na sua curiosa interpretação de liberalismo assume os riscos e garante os lucros aos privados. Como nota, a própria Troika mandou-nos cortar as rendas excessivas do sector, tarefa que se revela quase impossível por causa dos compromissos assumidos com os investidores estrangeiros.


Baixar os Preços dos Combustíveis Líquidos


Chegados à pág. 367, é-nos apresentado um gráfico mostrando a diferença entre os os preços dos combustíveis em Portugal e os preços médios na União Europeia, sem impostos, desde 2003. O gráfico revela que a partir de Outubro de 2005 há um diferencial enorme entre os preços a favor das operadoras nacionais. Conclusão, a liberalização dos preços dos combustíveis levou ao aumento dos mesmos. O autor sugere que os preços voltem a ser fixados administrativamente, usando o argumento que em pequenas economias, como a nossa, os mercados da energia facilmente se transformam em oligopólios. Mais à frente, na pág. 382, sugere fixar administrativamente todos os preços da energia pelo mesmo motivo. Estou totalmente de acordo, o tempo já deu provas suficientes que não existe real concorrência entre as gasolineiras nem noutros sectores da energia.


Acabar com a Burocracia que Esmaga a Actividade Económica


Um dos problemas que Portugal tem é a dificuldade em se começar um novo negócio, facto evidenciado nos rankings do doingbusiness.com - estamos na 30ª posição e segundo a notícia do Público: Portugal desce dois lugares no ranking da competitividade, não estamos a melhorar. Tipicamente para se começar um negócio são necessárias várias licenças que, consoante o negócio, dependem de Câmaras municipais, direcções regionais de ordenamento, de ambiente, comissões de coordenação e departamentos de Ministérios. Para se obterem estas aprovações é preciso esperar meses, às vezes anos, cujo processo de atribuição se mantém extremamente burocratizado. Durante esse período, muita coisa pode acontecer e o negócio já nem ser viável. A sugestão de JGF é um modelo verdadeiro de Licenciamento Zero, que siga o princípio americano, o empresário pode começar a sua actividade quando quiser desde que se comprometa a seguir os regulamentos em vigor. Já houve passos nesse sentido pelo actual governo mas não foram eliminados os requisitos da entidades acima mencionadas. Mais à frente na pág. 405 fala de como este modelo de licenciamento exacerbado é especialmente prejudicial à formação das PMEs. Para terminar, em baixo está um gráfico do Global Competitiveness Report 2013-2014 que classifica regulamentações e burocracia como os 3 maiores problemas para se fazer negócios em Portugal. Mais sobre isto no artigo IRC: a burocracia custa o dobro da taxa, dizem empresários.



Alterar o Modelo que está na Base da ADSE


Chegados à página 438, JGF revela dados interessantes sobre a ADSE, citando um artigo da Visão diz que no caso geral os beneficiários da ADSE são incentivados a usar os serviços privados de saúde, beneficiando de taxas moderadoras mais baratas que recorrendo ao público. Citando o autor "Porque é que a ADSE, um sistema garantido e pago pelos contribuintes portugueses e apenas parcialmente quotizado pelos seus beneficiários, os incentiva através de preços das comparticipações a procurar o sector privado em detrimentos do SNS?" No total a ADSE contribui anualmente com cerca de 600 milhões de euros para a facturação do sector privado, uma grande parte do total da sua facturação. Ou seja, não é só nas auto-estradas e no sector de energia que os privados encontram rendas garantidas pagas com o dinheiro dos contribuintes.


Conclusão


A minha maior crítica, devido talvez à minha formação mais técnica, é que a estrutura de capítulos podia ser menos plana e ter sub-capítulos agrupados em capítulos. Isso facilitaria a sua consulta. Dito isto, a forma como o livro está escrito torna-o muito fácil de ler.

Para terminar, acho este um excelente trabalho de José Gomes Ferreira, em muitos pontos corajoso (por colocar o dedo na ferida dos grandes grupos financeiros), e espero que a mensagem contida no livro chegue a muitos portugueses.

Nota: a paginação acima referida tem como base a 3a edição do livro.


Sunday, November 18, 2012

How NY Times sees Lisbon

A colleague who is passionate about food pointed me to the following two interesting articles from NY Times:

How I Fell for Lisbon
But [sidewalk] tiles like these, used this way, were a revelation. It was as if Lisbon wore a set of jewels that other cities didn’t bother to.

4 Lisbon Restaurants Not to Miss
Cervejaria, in the elegant residential neighborhood of Campo de Ourique, to which few tourists venture, has a menu with a more diverse selection of clams, saltwater snails and even barnacles than I’d ever encountered before.

Wednesday, June 01, 2011

A efectividade no trabalho

No outro dia um amigo meu perguntava-me acerca do meu contrato aqui, se já era efectivo ou parte dos quadros. A minha reposta foi um "mais ou menos", porque realmente não é muito fácil fazer um paralelo entre a minha situação cá e os contratos de Portugal, mas vou tentar fazer aqui a ponte entre as duas realidades.

O meu contrato é de facto sem termo o que por definição me torna "efectivo", mas fazendo parte de um Graduate Programme é esperado que progrida para a posição de Associado em 2 ou 3 anos. Se tal não acontecer posso começar a procurar emprego noutro lugar, o que de certa forma se aproxima de uma cultura up or out, mas mais moderada que certas consultoras de topo. Nos degraus acima não há tanta pressão para se ser promovido, mas más avaliações consecutivas levam ao mesmo destino. Podem ler no meu post anterior sobre como essas avaliações são feitas. Em tempos de crise, como há dois anos atrás, não são necessárias muitas avaliações negativas para se ser despedido, basta estar-se entre os piores. Nessa altura a empresa despediu muita gente de vários níveis hierárquicos para conseguir sobreviver à crise.

O despedimento de um efectivo aqui é bastante mais fácil que em Portugal, mas isto também tem as suas vantagens:
  • É mais fácil uma empresa cortar a "gordura" nos maus momentos, sobreviver-lhes, e voltar a contratar nos bons momentos (em vez de sucumbir sobre o seu próprio peso).
  • Nos bons tempos, permite à empresa renovar-se com pessoal mais qualificado. Quem consecutivamente tem avaliações negativas obviamente escolheu o emprego errado.
  • Move o papel social de garantir um salário (mesmo a quem não o merece) para o estado em vez de ser a empresa a fazê-lo.
  • Não se desmotivam os trabalhadores (que realmente trabalham) por verem colegas não merecedores a serem recompensados.
  • Resumidamente, torna as empresas mais eficientes e eficazes.
O Reino Unido é dos piores países no que toca ao proteccionismo no trabalho, mas isso contribui para a sua economia pujante. No outro extremo, temos Portugal, um dos países onde existe maior protecção dos efectivos. Num artigo muito bom de Álvaro Santos Pereira, este explica como a reforma laboral acordada com Troika nos pode ajudar a melhorar a nossa situação. Nesse artigo ele mostra este gráfico da OCDE:

Indíce de protecção do emprego (0 para menos protecção, 6 para mais protecção) na OCDE
O que não é imediatamente óbvio é que este proteccionismo promove a precariedade do emprego. Devido à dificuldade (ou quase impossibilidade) de despedir um efectivo as empresas evitam ao máximo tornar quem quer que seja em efectivo. Não consigo censurar a Merkel por sugerir que Portugal devesse baixar o seu proteccionismo no emprego para os níveis da Alemanha, ainda estaríamos bem acima da média da OCDE e ajudar-nos-ia a diminuir o desemprego. A "justa causa" necessária para despedir um empregado é tão generosa que permite a este roubar dinheiro ao patrão e, após ir a tribunal, manter o emprego. Mais detalhes sobre esta história aqui. A triste realidade é que ser efectivo em Portugal dá uma garantia semelhante à reforma: um salário sem ter que fazer nada. Lembro-me de uma história caricata e de fonte segura, que num certo hospital para "despedirem" enfermeiros incompetentes colocavam-nos num serviço em que passavam os dias sozinhos a fazer tarefas aborrecidas, na tentativa destes desistirem e se demitirem. Foi a isto a que chegámos! Aqueles que chegaram tarde, e até são bons, não conseguem empregos efectivos porque os patrões têm medo que se acomodem...

Não sugiro saltarmos subitamente para as leis do Reino Unido, mas precisamos de flexibilizar o nosso código do trabalho para promover uma meritocracia e vencer esta crise.

Tuesday, May 31, 2011

Avaliação no trabalho

Em conversa com amigos portugueses apercebi-me que todos eles, nos seus empregos, são apenas avaliados pelos seus chefes e os seus chefes pelos chefes deles. Ora isto é um sistema muito unidireccional que permite aos chefes fazerem um mau trabalho perante os seus subordinados e, por outro lado, os subordinados terem que "dar graxa" para conseguir uma avaliação decente. No fim, alimenta aquilo a que eu chamo a cultura do "chefe glorificado" em que as chefias mandam e os subordinados obedecem. Um modelo bastante desadequado desde que saímos da Era Industrial e em que, muitas vezes, os subordinados estão tecnicamente mais habilitados que os seus chefes!

Como funciona a avaliação na minha empresa aqui em Londres. Digo Londres, mas neste caso podia ser qualquer lugar no mundo já que é uma multinacional e todos os empregados usam o mesmo sistema. Temos um sistema informático onde anualmente os empregados introduzem os seus objectivos anuais, acordados com o seu chefe, que devem ser mesuráveis e atingíveis. Duas vezes por anos são avaliados contra esses objectivos, a primeira vez é informal e serve de ensaio à 2ª avaliação que é formal e final. Quem avalia quem?
  • Todos os chefes avaliam todos os seus subordinados directos (sem surpresa);
  • Todos os empregados avaliam os seus chefes directos;
  • Tipicamente, todos os empregados avaliam os seus colegas de equipa e de outras equipas com quem interagem regularmente;
  • Qualquer empregado pode pedir feedback a outro empregado com quem trabalhou;
  • É ainda possível ao empregado pedir feedback via email a freelancers, a vendedores externos e clientes com quem trabalha.
As pessoas que estão a ser avaliadas não sabem o que os seus avaliadores dizem de si, o resumo/resultado é apenas comunicado no final. Em cada ano, formam-se comités de avaliação responsáveis por avaliar os empregados por escalão de carreira. Dentro de cada escalão, as pessoas são divididas entre aquelas que excederam as expectativas, as cumpriram e as que não cumpriram as expectativas. Os melhores recebem maiores bónus e promoções. Empregados que repetidamente não cumprem as expectativas são "convidadas" a sair.

É um sistema perfeito? Não. Há sempre empregados que interagem com poucas pessoas e por isso têm pouco feedback disponível mesmo estando a fazer um bom trabalho. Mas garante que uma pessoa seja avaliada por todas as pessoas com quem trabalha e obriga a que qualquer chefe trate bem os seus subordinados para ter qualquer tipo de reconhecimento.

Isto não me parece nada complicado de implementar em qualquer corporação relativamente grande ou serviço público, mas tenho a certeza que iria abalar alguns "poderes instituídos". Apenas sistemas de avaliação em que todos avaliam todos podem ser realmente justos (ou aproximarem-se disso).