Durante a campanha para as eleições legislativas de 2022 o líder do PS, António Costa, gabou-se de ser responsável pelo maior crescimento económico dos últimos anos como resposta a Portugal ter sido ultrapassado pelos países da Europa de Leste. Lamentavelmente a imprensa portuguesa não esclarece e muitos de nós temos de nos fiar nas palavras dos políticos para avaliar a performance económica de cada legislatura. Ora, os políticos escolhem sempre os números que lhes convêm, no horizonte temporal mais benéfico sem revelar, todos os números numa base fácil comparar.
Felizmente os números não precisam ser subjectivos, o Instituto Nacional de Estatística e o Banco de Portugal publicam todos os números que precisamos para avaliar o que passou em cada legislatura e pintar um cenário completo e objectivo.
Crescimento económico
A economia portuguesa depende em grande medida da economia europeia. Quando a economia europeia cresce, a economia portuguesa cresce e vice-versa. Daí um indicador interessante de analisar é a convergência entre a economia Portuguesa e a Europeia. A Figura 1 ilustra o ranking do PIB per capita português comparado aos países da UE27 contrapondo com a diferença entre o PIB per capita português à média da UE27 (a preto).
Fig. 1 - PIB per capita vs UE |
Em 1989 Portugal atinge o 15º lugar no ranking de PIB per capita na UE, o seu lugar mais elevado. Mantém este lugar até 2006. Mas a divergência começa em 2001, desde daí até aos dias de hoje, com algumas excepções, o PIB português tem vindo a afastar-se da média europeia. Em 2019 Portugal baixa para a 18ª posição no ranking, o seu lugar mais baixo, fruto da pujança das economias da Europa de Leste.
As excepções à divergência ocorreram em 2009, à custa de um aumento da dívida substancial, e em 2015, após o programa da Troika.
Fonte: World Bank
Dívida pública
Fig. 2 - Dívida Pública em percentagem de PIB |
Até 2002 Portugal manteve uma dívida pública na ordem dos 60%, condição acordada na Eurozona para ter o Euro como moeda nacional. Este limite é furado em 2003 e, em 2011, ano em que o líder do PS, José Sócrates, faz o pedido de ajuda externa ao FMI, Comissão Europeia e BCE (Troika), passa os 110%! Após o programa da Troika, em 2015, a dívida começa um caminho descendente. Em 2019 Portugal obtém o primeiro excedente orçamental atingido em democracia, de 0,1%. Este caminho descendente da dívida pública portuguesa é interrompido pelo Coronavirus que põe a nu lacunas no SNS, fruto de sub-investimento crónico.
Impostos
Fig. 3 - Impostos em percentagem do PIB |
Em 2016, senão me falha a memória, Costa diz "Virámos a página da austeridade", será verdade? Desde 2014 até 2019 os impostos em percentagem do PIB aumentaram, aproximando-se do recorde de 2006 e superando os impostos durante o período da Troika. Mas a austeridade não se sentiu apenas nos impostos.
Investimento Público
Desde 2014, com excepção dos anos de endividamento louco de 2009-2011, o investimento público nas administrações públicas tem vindo a diminuir. Nem a "Geringonça" de António Costa reverteu esta tendência, foi preciso uma pandemia global para o investimento público chegar aos níveis de 2015.
Fonte: Séries Longas da Economia Portuguesa - SLEP 2020
Facilidade para realizar negócios
Para melhorar uma economia é essencial melhorar o ambiente para realizar negócios, tal atrai investimento estrangeiro e a criação de novas empresas.
Fig. 5 - Ranking Ease of Doing Business |
Em 2014 Portugal atinge o 23º lugar, o sua melhor posição, no ranking Ease of Doing Business, que mede o ambiente para se fazer negócios. Desde então Portugal tem vindo a descer neste ranking atingindo em 2019 a 39ª posição.
Fonte: tradingeconomics.com
Outro factor que não ajuda os negócios, nem a atracção de capital estrangeiro é a percepção de corrupção.
Em 2015, e em 2018, Portugal atinge a sua melhor nota no indíce de percepção de corrupção: 64, infelizmente, em 2021, a sua nota é de apenas 62.
Fonte: Transparency International
Conclusão
No período da "Geringonça" de António Costa, a dívida pública reduziu-se enquanto os impostos aumentaram e o investimento público diminuiu. A economia portuguesa continua a divergir da UE27 e Portugal é agora um lugar pior para fazer negócios do que era antes de Costa ser Primeiro Ministro.
Notas
Os dados e os gráficos usados neste artigo podem ser encontrados em https://docs.google.com/spreadsheets/d/1YQZ_bDSEfWuxW--livaZIFxgidAexndJKJjUIcsI1rY/edit?usp=sharing
Também recomendo a leitura do artrigo do Banco de Portugal: Evolução de alguns indicadores a partir das novas Séries Longas para a Economia Portuguesa
PS: Não sou economista, apenas um curioso, não garanto a precisão e a pertinência do que está escrito neste artigo. Apenas garanto que foi escrito de boa fé, com a maior objectividade possível e com o melhor conhecimento que possuo sobre a matéria.